Quando pensamos ou ouvimos falar em câncer um dos principais pontos que nos vem em mente são células descontroladas que fogem dos sinais padrões e formam tumores com diferentes características. Até hoje as pesquisas acontecem para tentar descobrir todos os mecanismos de fuga desenvolvidos por essas células. Muito já foi descoberto, principalmente quando pensamos em alguns gatilhos específicos, que ficaram conhecidos como os “hallmarks of cancer”, e que são críticos para o desenvolvimento das células tumorais.
Antes de falar sobre os oncogenes é importante voltarmos nosso olhar para o interior das células que nos compõe.
De uma forma simplificada as células para funcionarem corretamente seguem um manual (nosso DNA) e a partir dele são formadas mensagens (RNA mensageiros) que irão ser transformadas em ações (proteínas). Esse manual é organizado em pastas (nossos cromossomos) e nele as informações escritas são os seus genes. Quando acontece um erro nessa leitura acontece o que chamamos de mutações: pequenas mudanças que podem resultar em importantes consequências.
Essas mutações, quando ocorrem, geralmente são detectadas e corrigidas por mecanismos inerentes a célula, e se por algum motivo a célula não conseguir corrigir a falha, existe ainda a possibilidade da célula sofrer o que chamamos de morte celular programada.
E aí vem a questão, com todos esses mecanismos descritos como ainda essa célula se transforma em uma célula tumoral?
Como em tudo que conhecemos existe uma taxa de falhas nesses mecanismos, neste caso uma bem pequena, mas ainda assim possível, que resulta em células que irão manter essas mutações. É importante lembrar que mutações podem ser benéficas ou neutras, nem tudo que sofre mudança precisa necessariamente ser ruim.
O câncer, em específico, podemos dizer que é uma doença baseadas em genes, uma vez que surge a partir de mutações genéticas. Isso porque os genes apresentam um papel fundamental no controle da vida célula, interferindo no seu ciclo de vida (ciclo celular, divisão e morte), que são ações fundamentais para o pleno funcionamento da célula e consequentemente do organismo.
Se olharmos para o ciclo celular, com foco na proliferação celular percebemos que as células normais são reguladas de duas formas: através da expressão dos genes supressores de tumores (que atuam parando o ciclo celular) e através dos proto-oncogenes (que atuam na progressão celular – relacionados com crescimento, diferenciação e proliferação celular).
As neoplasias para ocorrerem são decorrentes de uma perda ou inativação de ambas as cópias dos genes supressores de tumores, e isso é comumente associado à hiperativação de uma das duas cópias dos proto-oncogenes. Essa hiperativação significa que esse proto-oncogene sofreu uma mutação – que leva a produção de proteínas estruturais e funcionalmente aberrantes ou que foi amplificado (isso é, quando ocorre uma leitura anormal e o seu número de cópias ficar mais expressivo do que de outros genes levando a uma expressão exagerada de proteínas) ou através de rearranjos cromossômicos (quando pedaços dos cromossomos saem de suas posições normais) ou através de inserções de DNA viral. A consequência é a ativação de um proto-oncogene em um oncogene.
Quando um oncogene é ativado existem diferentes mecanismos de ação que podem ocorrer, como: 1) produção de oncoproteínas que podem levar a ausência da repressão da divisão ou inibição da morte gerando uma célula “imortalizada”. 2) Expressão excessiva de receptores de membrana para fatores de crescimento, 3) proto-oncogenes que estimulam a entrada da célula em mitose e a produção de proteínas que simulam a ação dos transdutores de sinal dos receptores de membrana para fatores de crescimento.
Será a atuação dos oncogenes em paralelo com os supressores tumorais que contribuíram para a conversão de células normais em células tumorais e o desenvolvimento do câncer?
Elucidar completamente como é a atuação de ambos ainda é um desafio. Grandes estudos e pesquisas contribuem para esta busca, principalmente para utilizar métodos especializados de triagem em laboratórios para identificar essas mutações nas células. O caminho é longo mas com certeza levará a ciência à importantes descobertas no estudo do câncer.
Nesse vídeo é possível observar as células tumorais apresentando características acentuadas de proliferação ao lado de células com o ciclo celular inalterado, demonstrando como seria esse ambiente onde ocorre a formação do tumor.
Autor: Thatyanne Gradowski F. da C. Nascimento
Edição: Selene Elifio Esposito e Fernanda de Almeida Brehm Pinhatti
Para saber mais:
HANAHAN, D.; WEINBERG, R. A. Hallmarks of cancer: The next generation. Cell, v. 144, n. 5, p. 646–674, 2011.
KONTOMANOLIS, E. N. et al. Role of oncogenes and tumor-suppressor genes in carcinogenesis: A review. Anticancer Research, v. 40, n. 11, p. 6009–6015, 2020.
コメント