Um pouco de números, porcentagens e previsões
Mesmo sendo um tipo de tumor pouco conhecido pelo público geral, o neuroblastoma (NB) representa de 8-10% de todos os casos de câncer pediátricos, com tumores surgindo principalmente na região do abdômen e paravertebral. Sua incidência anual é de 10,5 casos por milhão de habitantes nos Estados Unidos e cerca de 5,9 casos por milhão de habitantes no Brasil.
Apesar de parecerem números pequenos, quando levamos em conta o tamanho total da população mundial e ao considerarmos que essa população está sempre em crescimento, é possível ter uma melhor noção da proporção de crianças afligidas por essa doença, que somente nos Estados Unidos gera cerca de 800 casos novos por ano.
Por se tratar de um tumor com origem embrionária, a grande maioria dos casos (75%) ocorre em crianças menores de 5 anos. Com pesquisadores relatando dois picos de ocorrência, o primeiro em crianças menores de 1 ano e o segundo em crianças de 2-4 anos. Sendo a idade média de diagnóstico da doença de 23 meses.
Em 2018, cientistas e médicos da Universidade Federal de São Paulo (USP), realizaram um estudo analisando os dados de 258 crianças diagnosticadas com NB durante os anos de 1991 e 2012. Nesse estudo os pesquisadores observaram uma variação de idade entre os pacientes de 4 dias até 30 anos de vida, atingindo principalmente pacientes do sexo masculino (57%). Os tumores estavam localizados principalmente na região do abdômen e paravertebral. Em relação ao estadiamento, 75% estavam em estado de alto risco (estadios 3 ou 4), com apenas 26% de pacientes desse grupo conseguindo apresentar remissão (sinais e sintomas da doença reduzidos ou ausentes) da doença. Porém, ao observar todos os pacientes presentes no estudo, 52% deles conseguiram alcançar uma remissão em 5 anos.
Os principais meios de avaliar se o tumor se trata de um caso mais grave ou leve são baseados em características morfológicas e genéticas do tumor, além da idade do paciente, que também é considerado um fator de risco (quanto mais novo o paciente menor tende a ser o risco do tumor). A sobrevida de pacientes afetados com tumores de baixo risco chega a 80-90% das crianças afetadas pelo NB, porém em casos de risco elevado, ela cai para menos de 50%.
Apesar de ser um tumor com incidência muito menor que outros tipos como mama e próstata, o neuroblastoma ainda afeta uma quantidade considerável de crianças por ano, sendo necessário o estudo contínuo dessa doença e um tratamento digno para as crianças e famílias afetadas por ela.
Autor: Ronaldo Figueira de Oliveira
Edição: Selene Elifio Esposito e Daniel J. Scheliga
Fontes:
Bernstein, M.L., Leclerc, J.M., Bunin, G., Brisson, L., Robison, L., Shuster, J., Byrne, T., Gregory, D., Hill, G. and Dougherty, G., 1992. A population-based study of neuroblastoma incidence, survival, and mortality in North America. Journal of clinical oncology, 10(2), pp.323-329.
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Cartum J. Variáveis de prognóstico em crianças maiores de um ano portadoras de neuroblastoma disseminado (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
Instituto Nacional de Câncer. Neuroblastoma - versão para Profissionais de Saúde. Disponível em <https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-infantojuvenil/neuroblastoma/profissional-de-saude>
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